Fera do Gévaudan

O lobo

As instituições religiosas sofrerão, para sempre, o estigma dos dias de terror e violência que espalhou entre a população, através dos seus líderes, aproveitando-se da ignorância de seu próprio povo, o qual estava preso em seu medo e superstição.

Na Europa, em seu folclore, principalmente na Idade Média, era comum a crença de humanos metamorfosearem-se em animais como o tigre, o gato, o porco selvagem, a hiena, o lobo. Talvez seja um vestígio do antigo canibalismo.
Heródoto em seu Histories já menciona essa metamorfose.
E Gervase of Tilbury, um monge e cronista da idade média, é quem associa a metamorfose com a lua cheia, cuja idéia logo foi usada pelos escritores, até os dias de hoje, apimentando o mito.

Mas na França, no século 16, a superstição do lobisomem era comum e preponderante, tão evidente pelos numerosos julgamentos de assassinato e canibalismo, todos atribuídos à licantropia.

Os epiléticos eram acusados de lobisomens; homens acusados de lobisomens - licantropia - foram sacrificados. As crianças que nasciam na véspera do Natal; a 7ª filha de uma família; as mulheres adúlteras, eram todas julgadas lobisomens. Os doentes mentais, as pessoas debilitadas ou aleijadas, todas pagaram um alto preço por suas enfermidades: a fogueira.

À essa época, a população era camponesa, pastoril, e domesticava os animais que lhe interessava, e aqueles que lhe dificultava ou lhe exigia mais empenho em domesticá-los, ou que lhe causava temor, já eram considerados inimigos.

E nessa época, o lobo já estigmatizado inimigo porque, justamente, lhe apetecia o carneiro - animais com casco estavam incluídos em sua dieta alimentar, etc. - e, além disso, já existia a tradição de um símbolo alusivo ao carneiro. O lobo, então, era temido e era o símbolo da crueldade, e encarnava o diabo.

Havia até provérbios e histórias de lobo, que os misturavam com Deus, Jesus Cristo, demônio, etc., porque haviam se transformado em superstição.

As fábulas que retratam animais foram recontadas verbalmente um sem número de vezes, e muitas delas chegaram ao ouvido do povo distorcidas.

Essas fábulas tinham conotações políticas e sociais e, em cada uma delas, uma moral.

Os intelectuais da época alimentavam esse terror e essa superstição em seu próprio proveito.

A Europa inteira esteve na caça aos lobos: na Inglaterra - no reinado de Edgar, the Peaceful - os bandidos pagavam suas dívidas com as cabeças ou peles de lobo; na Escócia, o rei James VI autorizou todos os homens, velhos ou jovens, a caçá-los, causando o desmatamento em suas densas florestas; a Irlanda oferecia prêmio em dinheiro a quem o caçasse, adotando, gradualmente, a caçada como um esporte nacional; na França, já àquela época, o rei Carlos Magno instituiu, em 812, um corpo especial de forças para a caça aos lobos, o Louveterie; o rei Luis XV continuou a utilizar o Louveterie e também utilizou o veneno para matá-los; na Suécia, foi utilizada a armadilha, e em 1.647, foi introduzido um prêmio para a caça ao lobo, e na Noruega também. Na Dinamarca, na Suíça, e na antiga Bavaria, os lobos eram sumariamente mortos.

Na Itália foi formado também um corpo especial para caçá-los.

Na Idade Média, a população começou a crescer, avançando para as florestas, dizimando-as. Então os lobos, acuados e famintos, caçavam os animais dos camponeses.

Os lobos teriam sido a desculpa para o desmatamento da floresta européia?

A Fera do Gévaudan

Entre as muitas histórias e lendas retratando o lobo, a do Gévaudan é um mistério incomum, e além disso houve um envolvimento político e religioso que influenciou diretamente na História da França. Esse, ou esses lobos - um casal de lobos, segundo o padre da paróquia de Gévaudan, François Fabre - rondando por Langogne à Aumont, de Ruynes à Pinols, e Saugues, Auvergne, Saint Flour, Saint Chély d'Apcher e nas adjacências ao sul da França, durante os anos de 1.764 a 1.767, mataram cerca de mais de 100 pessoas, em circunstâncias bizarras...

mapa dos locais onde aconteceram os ataques

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Ou seria um Arenotelicon parente do tigre ou da hiena? Ou uma nova espécie de animal teria surgido segundo um jornal inglês dessa época? Ou seria um animal híbrido?

Foi chamada a "Bête du Gévaudan".

Escultura da fera do Gévaudan. Saugues Haute-Loire

Escultura em Saugues, Haute-Loire

Os ataques de morte foram concentrados exclusivamente em crianças e adolescentes de ambos os sexos e jovens mulheres.

Obra de Philippe Kaeppelin. Representa Marie-Jeanne Vallet em combate com o animal. A obra está em Auvers pequena vila de Haute-Loire.

Obra de Philippe Kaeppelin. Representa Marie-Jeanne Vallet em combate. A obra está em Auvers, em Haute-Loire

Muitas explicações - animal pré-histórico, animal mutante, "loup-garou", "Tarasque", etc. - foram abordadas ao mesmo tempo mas foram descartadas.

Tarasque. Para ver uma linda coleção de cartões postais e medalhas visite http://h4erso.wanadoo.fr/zeurg/index.htm

Tarasque.

Tarasque. Santa Marta visitando atualmente a vila de Tarascon libertou-a do monstro aspergindo água benta.

Tarasque. Santa Marta visitando atualmente a vila de Tarascon libertou-a do monstro aspergindo água benta.

Outra versão da Tarasque que Santa Marta aspergiu água benta

Outra versão da Tarasque que Santa Marta aspergiu água benta.

Tarasque. Esta figura está no monastério de Sénanque.

Tarasque. Esta figura está no monastério de Sénanque.

Pelo menos em 5 ocasiões o rumor de que o animal era um grande lobo ou um babuíno causou-lhes a mortandade. Mas logo em seguida os ataques do The Animal of Gévaudan recomeçavam.

Esse fato é lembrado como The Greatest Enigma of History. Faz parte da história da França porque algumas informações arquivadas conduzem a uma invenção arquitetada pelos jesuítas para que eclodisse uma nova revolução entre os católicos e os protestantes os quais continuavam em conflito e prejudicar o reinado de Luis XV.

Para evitar um outro confronto e poupar o desgaste do império o rei Luis XV interessou-se pessoalmente oferecendo até um prêmio porque os acontecimentos estavam aumentando a intranquilidade e consequente grande tensão religiosa - entre jesuítas e protestantes; essa tensão só foi controlada em 1787 quando foi estabelecida a tolerância religiosa - e política. Por isso enviou à Gévaudan tropa do seu exército comandado pelo capitão Duhamel ao ingovernável distrito pagos pela administração de Gévaudan e também porque a população local fora toda desarmada - ficando indefesa - em virtude da récem-terminada guerra. title="Imagem

Imagem do lobo cercado pelos soldados de Duhamel.

Caçadores de vários países foram à Gévaudan devido à recompensa causando maiores problemas - por mentirem para enganar seus concorrentes prejudicando as investigações - até morais denegrindo a competência do rei e de seu exército.

O povo também estava sendo prejudicado porque tinha que pagar a conta do aparato da caça à la Bête através de altos impostos e além disso se sentia desencorajado de ir ao trabalho por causa do medo. Devido a este prejuízo o rei enviou a Gévaudan Martin Denneval o melhor caçador de lobos do império que não teve sucesso em sua empreitada. Antes de ir embora declarou que o animal não era um lobo ou pelo menos um lobo comum.

M. Antoine de Beauterne tenente do Louveterie o melhor atirador da coroa substituiu Denneval e matou um lobo em 21 de setembro de 1765 o qual foi enviado ao The Natural History Museum of Paris.

Denneval durante a caçada.

Denneval durante a caçada.

Estranhamente intercalava-se período de paz e de turbulência.

A população e as pessoas envolvidas não sabiam descrever ou apontar qual animal era exatamente e com o passar do tempo algumas começaram a acreditar ser um animal real: lobo; ou produto da fantasia: nandi bear, ou wendigo, ou chupacabras, lobisomem, etc.; ou exótico: babuíno ou hiena; ou era um divino instrumento: criatura do diabo ou Deus a teria enviado como punição; ou bruxaria. Ou ainda que haveria uma pessoa maligna agindo por detrás dessas mortes.

Até o filho de Jean Chastel, Antoine Chastel foi objeto de suspeita porque era uma pessoa estranha e vivia recluso em companhia de animais selvagens.

Quando esteve na África esteve a serviço para cuidar de animais estranhos e exóticos. Suspeitaram também que possuía um animal selvagem - uma hiena híbrida ou um lycaon - que trouxera da África.

Para conhecer mais sobre o lycaon visite o site Walker's Mammals of the World

Lycaon pictus. Fotografia do site http://alphabetes.free.fr Uma instituição de proteção ao ecossistema e animais em extinção. Fotografia do site http://www.livingdesert.org/ Uma instituição de proteção ao ecossistema e animais em extinção. Fotografia do site http://www.livingdesert.org/ Fotografia do site http://www.trp.dundee.ac.uk/~tdixon/misc.html Fotografia do site http://www.trp.dundee.ac.uk/~tdixon/misc.html

A população acredita que a família Chastel dava guarida a lobos híbridos os quais pertenciam ao nobre Jean-François Charles de Morangiès e teriam escapado do seu controle e estariam atacando.

Incrivelmente ninguém conseguia vê-la com nitidez e muito menos capturá-la.

Até que um dia a noiva de Jean Chastel foi atacada. Então ele fez 3 balas de prata de uma medalha de Nossa Senhora as quais foram abençoadas pelo pároco juntou-se à tropa do Marquês de d’Apcher um nobre da cidade.

Em 19 de junho de 1767 Jean Chastel The Mask matou a la Bête nas terras do Marquês de d’Apcher a qual foi embalsamada e levada à Paris para receber a recompensa.

Mas la Bête estava irreconhecível por ter apodrecido durante a viagem então foi enterrada.

Mas para matar o animal dizem que Jean Chastel realmente juntou-se à tropa mas longe de todos chamou o animal e quando ele veio simplesmente o matou.

Após seu pai ter matado la Bête Antoine desapareceu da cidade.

Imagem do lobo empalhado que Jean Chastel matou.

Imagem do lobo empalhado que Jean Chastel matou.

O epitáfio em homenagem à Jean Chastel está em Besseyre St Mary. Obra de Philippe Kaeppelin

Epitáfio em homenagem à Jean Chastel, em Besseyre St Mary. Obra de Philippe Kaeppelin.

Escultura de 1958 ou 1959 de autoria de Emmanuel Auricoste em Marvejols

Escultura de 1958 ou 1959 de autoria de Emmanuel Auricoste, em Marvejols.

As testemunhas que a viram morta disseram que se parecia com um lobo mas não era um lobo.

fera de Gévaudan em Saint Privat d'Allier

Imagem em Saint Privat d'Allier.

Visitem e vejam as fotos da cidade de Saint-Privat-d'Allier e de outras cidades francesas - Travel Guide Tourist Information

Visitem o site do fotógrafo em cujo album tem fotos dos países da América Latina e de outros países pelo que entendi abordando nuances francesas.

Na atualidade os pesquisadores acreditam que era um serial killer cometendo assassinatos aproveitando-se da presença dos lobos na região.

Em várias cidades da Europa há esculturas e desenhos em relevo de animais similares considerados monstros.

A notícia da la Bête foi amplamente divulgada no Avignon Gazette, The Paris Gazette, Saint James' Chronicle - este noticiou que esse animal seria de uma nova espécie - e em outros jornais da época; distribuíram cartazes e vários escritores publicaram livros baseados na história da la Bête. Cliché do animal Cliché A.D. Lozère Conseil général Cliché A.D. Lozère Conseil général Cliché A.D. Lozère Conseil général

Hoje pesquisadores estudantes e interessados estudam documentos arquivados nas cidades como Clermont-Ferrand e Montpellier para desvendarem esse intrigante mistério da história francesa.

Até hoje historiadores zoólogos e outros cientistas estudam o fato que continua no mais completo mistério.

Os lobos no novo mundo

Ainda na Europa os próprios camponeses propagavam histórias a respeito dos lobos as quais os imigrantes trouxeram então chegando às Américas em locais onde haviam lobos começou o seu extermínio a prêmio.

Após os primeiros 50 anos do início do século 19 por 30 anos mais de 75 milhões de búfalos foram exterminados causando o aumento da população dos lobos que comiam as carcaças e seguiam esses caçadores de búfalos e estes por sua vez começaram a matá-los por esporte. Quando não adicionavam estricnina na carcaça dos búfalos causando-lhes a morte e também de outros animais como urso coiote raposa ferrets racum esquilo e aves como a águia o abutre e o falcão.

Somente na década de 80 com a aparição da pesquisa biológica de lobos em universidades os biólogos começaram a se interessar em protegê-los em parques abrigando-os e incentivando a sua procriação.

O Parque dos Lobos

Gévaudan hoje se chama Lozère e em Sainte-Lucie no Park of Gévaudan em 1.985 Gérard Ménatory em parceria com Languedoc Roussillon e The Brigitte Bardot Foundation estabeleceu o Gévaudan Wolf Park onde lobos do Canadá, da Polônia, da Mongólia e da Sibéria e outras sub-raças vivem em semi-liberdade e o público pode visitá-los.

Clique no link abaixo prá visitar o site do Gévaudan Wolf Park.

loup.org é uma associação de proteção ao lobo cujo estatuto pode ser lido em .pdf no link abaixo respectivamente do site da associação e o estatuto.

Extinção do lobo

Há várias organizações que estão tentando evitar a extinção desses animais os quais foram quase dizimados por causa do medo que eles causavam na população.

Foram assinados em favor dos lobos na Europa 2 acordos para auxiliar a não extinção do lobo: Convention on the Conservation of European Wildlife and Natural Habitats e Council Directive 92/43/EEC on the Conservation of Natural Habitats and of Wild Fauna and Flora; The Scottish Natural Heritage foi criado para a reintrodução do lobo na Escócia.

O International Wolf Center nos Estados Unidos promove a sobrevivência da população dos lobos.

Essas e outras organizações primeiramente estão criando programas educacionais para a reeducação da população para a aceitação dos lobos na comunidade.

Extinção do Lycaon pictus

O Lycaon pictus tem o seu hábitat na África e sua sobrevivência está muito difícil devido ao desmatamento da floresta.

Assim seu hábitat natural foi destruído.

Com o desaparecimento da floresta procurando comida em áreas de agricultura tem sido enxotado ou sumariamente morto ou perseguido por cães domesticados ou atropelados e mortos na estrada.

A equipe do Botswana Wild Dog Research Project tem atuado junto à população da África no sentido de conscientizá-la para que aceitem a convivência com esses animais - por serem sociáveis e dóceis - próximos da extinção por causa da fragmentação da floresta.
Atualmente são encontrados na Namíbia, Botsuana, Moçambique e em partes do Zimbábue, Swazilândia e no Transvaal.

Lycaon pictus

A cor da pelagem é única: não há dois animais com o mesmo padrão de cores de pêlo.

Os jovens, os velhos e os enfermos recebem privilégio do bando e os filhotes também recebem todos os cuidados do bando.

Quando o bando vai caçar comida eles a trazem para os privilegiados que estão impossibilitados de caçarem: regurgitam a comida para que possam ficar alimentados.

São monogâmicos.

Lycaon pictus. Fotografia de propriedade de H. Vannoy Davis © California Academy of Sciences. University of California Berkeley
Posted by criptopage